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Como contratar furos em concreto

O projeto de execução deve considerar informações sobre concreto, estrutura e eventuais instalações e sistemas embutidos nos elementos a serem cortados

Por Bruno Loturco

 

Escolha pelo fornecedor pondera desde análise de riscos até a remoção do material e colocação no bota-fora

A passagem de tubulações, conduítes, drenos e outros dispositivos ou sistemas prediais exige, em alguns casos, a execução de cortes ou furos em estruturas de concreto. Em obras novas, esses serviços são necessários quando, por falta de previsão ou de alternativa, as fôrmas não ganharam, durante a concretagem, enxertos ou elementos para produção de orifícios.

 

"Serviços de corte e furo devem ser contratados somente em casos específicos, em que outras técnicas não podem ser aplicadas ou quando o prazo é mais importante que o custo", pontua Gilberto Giassetti, consultor da Alec (Associação Brasileira das Empresas Locadoras).

A necessidade de extrair corpos de prova para confirmação da resistência do concreto também pode ensejar a execução desse tipo de serviço. "Em alguns casos, como em túneis revestidos com concreto projetado, o serviço pode ser previsto em projeto para criar parâmetros de controle e verificar a qualidade da execução, mas isso é exceção", explica o professor Antonio Domingues de Figueiredo, da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo).

Há, ainda, um terceiro caso, associado a obras antigas, em que costuma ser comum a contratação de serviços de corte e furo de concreto para verificação da qualidade e resistência do material. Também em obras já existentes, a passagem de dutos ou tubos para modernização da edificação pode demandar adaptações da estrutura por meio de incisões no concreto.

 

ESPECIFICAÇÕES

A contratação de serviços de corte e furo de concreto deve ser precedida da concepção de um projeto detalhado, além da demarcação, na própria estrutura, dos pontos que sofrerão intervenção. "Pior do que ter de cortar uma estrutura é ter que repetir o serviço ao descobrir que o posicionamento do furo ou seu diâmetro foi informado incorretamente", alerta Figueiredo. Por isso, é importante que o encarregado da execução acompanhe a marcação e o que está determinado em projeto. Além disso, a especificação deve contemplar o prazo, a forma de remoção da estrutura, a necessidade de retrabalho para acabamento da estrutura remanescente e os critérios de segurança.

Cabe ao contratante verificar, ainda, a legislação local relacionada a trabalhos de demolição e se o local permite barulho e poeira. Giassetti lembra que são comuns mal-entendidos relativos às unidades de medida. "Para não haver confusão basta que a proposta comercial seja clara e bem elaborada e, sempre que necessário, que o contratante seja esclarecido antes do início dos serviços", explica.

 

LOGÍSTICA

É responsabilidade do contratante providenciar a limpeza e a remoção de empecilhos da área onde serão realizados os serviços, bem como o fornecimento de ponto de energia e água conforme especificado pelo prestador do serviço. Quando o acesso à área for difícil, é necessário providenciar acesso seguro ao pessoal e aos equipamentos a serem utilizados, além de meios para remoção dos blocos cortados. O projeto deve prever escoramentos e o desligamento de eventuais linhas de fluidos, gases e energia.

 

COTAÇÕES DE PREÇOS E FORNECEDORES

Para Giassetti, a cotação é a parte mais delicada de todo o processo e deve partir da comparação entre empresas de mesmo porte e experiência, com atenção a prazos, plano de remoção proposto - cuja execução geralmente fica a cargo da contratante - e cumprimento de obrigações trabalhistas, legais e contábeis. "A solução deve abranger desde a análise de riscos até a remoção do material e colocação no bota-fora. Só assim é possível comparar preços e decidir pela solução mais interessante do ponto de vista financeiro", conta Giassetti.

Outro ponto a observar é a exigência, por parte da contratada, de mão de obra de apoio a ser fornecida pela contratante, o que não é contemplado no preço, mas aumenta o custo real. "Se determinada empresa se encarrega de praticamente todo o serviço, prevê prazo razoável e aceita multas pelo seu não cumprimento, são aspectos que devem ser considerados", pondera Figueiredo. O tipo de equipamento pode influenciar no orçamento também, pois custa mais contratar maquinário menos barulhento, mais econômico em relação à energia consumida, mais seguro e eficiente. Em geral, os pagamentos são feitos após medição dos serviços realizados, mas podem ser realizados por meio de taxa diária, nos casos de contratos menores.

 

CUIDADOS GERAIS

Para a contratação, é fundamental fornecer todas as informações ligadas ao projeto da estrutura, como a classe de resistência do concreto, planta de fôrmas e posicionamento da armadura, bem como todo o detalhamento das barras, incluindo diâmetro, recobrimento e utilização de solda ou trespasse. Também devem ser fornecidos à prestadora do serviço todos os detalhes dos projetos de instalações que fizeram uso de dispositivos embutidos no concreto. "Atenção especial para estrutura de concreto protendido, pois é um risco extremamente alto a realização de furos que possam atingir os fios e cordoalhas", salienta Figueiredo.

Giassetti alerta para a importância de trabalhar somente com empresas que possuem pessoal treinado e capacitado para as tarefas. "É importante exigir certificados de treinamento dos operadores, contratar empresas experientes, seguir as normas de segurança e legislação trabalhista, analisar riscos e verificar se a empresa possui manuais de operação e segurança dos equipamentos", diz.

 

NORMAS TÉCNICAS

> NR-18 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção

> NR-33 - Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados

 

Checklist

> Desenvolva um projeto de corte e furo detalhado e demarque na estrutura os pontos de intervenção. O encarregado da execução deve acompanhar a demarcação.

> Combine com a empresa contratada o plano logístico de remoção e descarte dos

> Providencie a limpeza do local, pontos de energia e de água conforme o previsto em projeto, além do desligamento de linhas de fluidos, gases e energia.

> Para avaliação do preço, pondere prazos, multas e equipamentos utilizados.

> Forneça à prestadora as informações relacionadas à resistência e à armadura da estrutura - especialmente no caso de elementos protendidos - e aos sistemas e instalações embutidos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Site PINIWEB - Revista Construção Mercado Negócios de Incorporação e Construção Edição 103 - Fevereiro/2010

"O serviço de corte e furo é uma operação destrutiva da estrutura, mas que deve preservar ao máximo sua resistência"

 

Antonio Domingues de Figueiredo, professor da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo)

Destruição controlada

Quais são os maiores problemas para a execução de corte e furo de concreto?

Deve-se, sempre que possível, evitar cortar áreas da estrutura densamente armadas, pois isso compromete significativamente o desempenho e atrasa o serviço pela dificuldade associada ao corte do aço. Não se pode esquecer que o serviço de corte e furo é uma operação destrutiva da estrutura, mas que deve preservar ao máximo sua resistência. Outra informação importante é sobre a utilização de sistemas diferenciados de reforço do concreto, como fibras de aço.

 

A idade do concreto influencia o serviço?

Quanto mais cedo for realizado o serviço, melhor, pois menor será a resistência do concreto, o que facilita a execução e provoca menos desgaste dos equipamentos de furação, com redução dos custos. O serviço sempre deve ter o aval do projetista, pois a perda de resistência localizada da peça estrutural não pode comprometer a estabilidade geral da estrutura.

 

Quais cuidados de segurança o contratante deve ter?

O contratante também é responsável pela segurança das pessoas e equipamentos utilizados. Normalmente, o serviço ocorre com a obra em operação, o que aumenta a possibilidade de conflitos com outros serviços. A empresa encarregada da realização dos furos é responsável direta pela segurança de mão de obra e equipamento ligados às operações de serviço, como o uso de EPI (Equipamentos de Proteção Individuais) e a segurança na fixação e operação dos equipamentos. Não se pode esquecer que, durante a furação ou corte de uma laje, há sempre o risco de que o pedaço extraído caia no andar de baixo. Por isso, deve estar isolado e demarcado para garantir a segurança das pessoas.

ENTREVISTA - Antonio Domingues de Figueiredo

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